terça-feira, 24 de julho de 2012

Meu Povo: Dona Mira


Não via a hora em que iria começar a escrever sobre minha família. Achei que escreveria primeiro sobre meu pai: Raymundo de Oliveira, mas inaugurarei escrevendo sobre esta guerreira que comemorou no último dia 1º de julho, 77 anos de idade. Zulmira Nobre de Oliveira, ou simplesmente, Dona Mira, ou para mim: Mãe.

Dona Mira nasceu em Água Preta, Itabuna, Bahia em 1935. Morou em Ilhéus e em Salvador, onde seus pais tinham uma pensão. Passei minha infância ouvindo histórias maravilhosas sobre sua infância e sua adolescência na Bahia. Do medo de passar nos “pontilhões” e do trem vir, às travessuras que aprontava. Dos hóspedes viajantes que passavam pela pensão aos hospedes moradores que viviam por lá. Histórias de fantasmas e de como cantava nas noites boemias da pensão ou ainda quando acompanhava seu pai a igreja só para cantar o hinário e ser aplaudida por todos os crentes.

Depois que seu pai separou de minha avó, a índia patachó Donice Martins, minha mãe teve que largar - a contra gosto - os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas. Seu sonho de ser a advogada teve que ficar nos sonhos para que seus irmãos pudessem estudar.

Por volta de 1955, veio para o Rio e trabalhou como telefonista do hotel Flórida onde conheceu meu pai e daí casaram-se começando assim a minha história neste planeta.

Desde que me entendo por gente, lembro de minha mãe na máquina de costura. Fazia desde meus uniformes de colégio às minhas fantasias de carnaval. Meus terninhos para casamentos até meus shorts reforçados para brincadeiras num quintal/floresta onde morávamos.

Eu adorava vê-la costurando, ver como os tecidos deslizavam na máquina (primeiro uma Singer preta de pedal e mais tarde uma outra, branca motorizada) e quando menos esperava aquilo havia se transformado num vestido ou numa camisa já quase pronta. Era mágico!

Em muitas dessas vezes ela cantava e eu a ouvia como se o barulho da máquina fossem os instrumentos que acompanhavam sua bela voz em canções tão lindas que até hoje me encantam quando ouço nas vozes dos cantores originias.

Foi Dona Mira quem conseguiu a bolsa integral para eu estudar num colégio bom quando era pirralho. Foi Dona Mira quem me carregou nos braços e atravessando a passarela das Casas Sendas quando tive um princípio de febre reumática e que por conta do peso e do esforço acabou ficando com sequelas que precisaram ser corrigidas anos mais tarde. Foi Dona Mira que através de seus amigos (Maria e Jorge Gama) conseguiu meu primeiro emprego na Embelleze. Foi Dona Mira quem sempre esteve ao meu lado em todos os meus momentos felizes ou tristes me dando força e torcendo por mim. Me repreendendo nas horas em que errei ou me aplaudindo quando acertei.

Dona Mira adora uma conversa, pode passar horas e horas conversando. E é bem legal ver como ela reage as histórias. É cada espanto! Parece que você está contando a coisa mais inesperada do mundo, pois ela se surpreende de verdade! Fica com tanta raiva - de mudar o humor pelo resto do dia - se contam alguma injustiça feita a alguém que talvez ela nem conheça. Mas fica tão feliz quando vê o bem, que não sei se contagia-se ou se reconhece-se nas histórias de generosidade.

Quando eu vim morar em Recife e tive a possibilidade de ver a Paixão de Cristo em Nova Jerusalém lembrei que um dos sonhos de minha mãe era um dia poder assistir de perto este espetáculo. Lembrava dela dizendo: “Será que um dia vou poder assistir ao vivo?”. Não pestanejei, comprei uma passagem para ela e consegui realizar - ao menos - um de seus sonhos. E para mim foi o meu sonho realizado, vê-la tão emocionada ali. E tão pertinho de mim...

Dona Mira pode parecer uma mãe como tantas outras mães. Mas tem uma coisa que faz toda a diferença. Ela é a minha mãe. E por mais que você possa pensar que mães fazem sacrifícios pelos filhos, foi ela, Dona Mira quem fez por mim. E meu orgulho por ser filho desta mulher corajosa, justa, carinhosa, generosa é tão grande que me sinto tão pequeno ao seu lado que volto a ser uma criança que precisa sempre de sua proteção. Dona Mira mais que seu filho eu sou seu fã!

7 comentários:

Hugo Mendes Guimarães disse...

ufa.. li tudo ' NUM TIRO Só'
emocionante

forte
impactante
q bonito cézar,
que parada.
que coisa rica
véio...
me arrepiei.
só de lembrar dona mira na sua maquina de costura,
e em tanta coisa bacana q pude
sentir dessa doce senhora,
senhora sua,
parabens mesmo
LINDOOOOOOOOOOOOOOOOO

Gabriel Guimarães disse...

Muito lindo Brother !! tô chorando até agora !! Rapazzzz,eu aindo lembro daqueles "chortinhos" que ela fazia pra vc !!kkkk FANTÁSTICOS, seriam um sucesso de mercado hoje em dia !
Dona Mira fez inúmeras bainhas de calça para mim, meu uniforme de escoteiro,tudo que eu precisava em matéria de costura,era a ela que eu recorria !! e é tudo do jeitinho que vc descreveu! Dona Mira é linda, uma doçura. uma Grande mulher ! orgulho-me de poder desfrutar de seu carinho! ahh..e quando ela diz: JÚNIOR VOCÊ TEM QUE CONVERSAR COM O CÉZAR !! kkkkkkk

Zaray disse...

Demais né? Imagino vc conversando comigo... É igual Vó Dudu: "Não vai levar o Juninho para a bebetina não heim"!

Angela Nobre disse...

Meu Deus! Estou aqui trabalhando,loja aberta, gente passando, e eu chorando... de emoção!
Já sabe que ela também vai chorar,né?
Ela é tudo isso sim , irmão. Você como poeta descreveu muito bem. Nós quatro somos sortudos pelos pais que temos. Ele em espírito e ela aqui, sempre presentes, amor purinho...
Beijos!

Cláudia disse...

Muito bom!! Fiquei muito emocionada e lembrando também desses tempos bons.... a máquina de costura, o som dela cantando... que saudade! Que saudade!! Queria ser como ela quando eu crescer, mas não sei se vou conseguir não... Ela é especial demais! Obrigada mãe por ter sido minha mãe com M maiúsculo... obrigada pela família que formou, junto com pai, pelo amor que sempre nos deu, nos transmitiu através de ações e não de blá blá blá.... hoje em dia, me sinto criança muitas vezes, precisando de colo..... nem todo mundo vai entender isso, mas Cézar, Angela e Lulu com certeza vão.....

Daniele disse...

Adorei o texto!. A Tia Mira é mesmo especial. Adoro ouvir as histórias dela quando vou a Nova Iguaçu.
Além disse ela soube criar mutio bem os filhos, meus primos queridos.
Beijos,
Dani.

Cesar_zen disse...

Sou testemunha de uma parte desse texto... Sua mãe é uma pessoa ótima de conversar... das pouquíssimas vezes que a gente se encontra ... batemos ótimos papos!... Uma pessoa admirável!>.. parabéns pra ela.. e para os filhos.. que fizeram por merecer essa mãe!