domingo, 12 de fevereiro de 2012

DMV – Magia Tropical – A Cor do Som

Sou do século passado, pessoal. Antigamente a gente dizia o meu grupo ou meu conjunto musical preferido. Não era a minha banda preferida. Banda era aquele monte de velhinhos tocando marchinhas, vestidos de branco em inauguração de loja.

Pois bem, feito os jovens de hoje em dia, também tive a minha banda preferida de adolescência. Aquela da qual você compra todos os discos, sabe da história dos integrantes, tem de cor as músicas, etc e tal. A minha banda foi A Cor do Som.

O DMV desta quinzena versa sobre Magia Tropical LP/Elektra/WEA – 1982 – A Cor do Som, produzido por Guti e Sérgio de Carvalho. Magia Tropical é o sexto disco da Cor, mas foi o primeiro trabalho que ouvi do grupo: amor à primeira nota. Em 82 estava no auge dos meus 13 para 14 anos e ávido por novidades sonoras. Conheci o disco numa ida à casa dos primos ricos da Tijuca.

A Cor do Som veio da mistura de Rio e Bahia (Mu, Dadi e Gustavo do Rio e Armadinho e Ary da Bahia, que ingressou no grupo a partir do segundo disco). Toda a Cor, exceto Armandinho, tocava com o Moraes Moreira (Dadi foi dos Novos Baianos, antes) e depois resolveram seguir carreira como grupo. Acho que foi até o Caetano que batizou se bem me lembro. Nos primeiros discos a Cor fez uma ponte psicodélica entre a Bahia de São Salvador e o Rio de Janeiro de São Sebastião: frevos e ritmos nordestinos eletrificados, grandes intervenções de teclados/minimoogs/sintetizadores, guitarras carnavalescas, percussão ativíssima, letras e posturas pós-tropicalistas, praia, verão e peitos nus ao sol eram, entre outras coisas, os toques dos quais a Cor imprimia; e que fizeram muito sucesso no final da segunda metade da década de 1970 e início dos anos 80. Muitos hits desta fase: Arpoador, Palco (regravação do sucesso de Gil), Zanzibar, Semente do Amor, Zero, Alto Astral, Mudança de Estação e Abri a Porta (também regravação de Gil em parceria com Dominguinhos).

Não obstante a este período em que o grupo conquistou o Brasil, houve a saída de Armandinho depois do disco Mudança de Estação de 1981. Foi uma saída que determinou a mudança de uma sonoridade elétrica-nordestina-carioca-praiana para uma (com pavor de cometer injustiças), digamos, mais sofisticada, de arranjos mais atualizados e de concepção jazzística. Tudo isso se deve ao substituto de Armandinho: Victor Biglione.

Biglione entrou para gravar o Magia Tropical. Sua guitarra fez o som da Cor ampliar-se. A nova mistura rejuvenesceu o grupo. Magia Tropical não deixa de ser um disco pop, é verdade, mas possui, por conta da participação de um virtuose feito o Biglione, um frescor conceitual. Biglione permitiu que a Cor experimentasse outros ares, outros mergulhos e outras densidades.

Uma das características marcantes da Cor foi a de sempre incluir músicas instrumentais em seus discos. E o Magia Tropical não foi diferente. Biglione emplaca logo de cara duas instrumentais (Ping Pong em parceria com Mu e Outras Praias, só dele). Gosto para dedéu desta última.

Caetano e Gil têm inéditas gravadas. Do primeiro, Menino Deus, canção que por muito tempo teve apenas este registro da Cor; anos depois, ouvi uma versão voz e violão do autor, meio insossa, arrisco-me a opinar. De Gil, o grupo gravou Goma de Mascar (único registro que conheço da canção) e uma versão que ele (Gil) fez para Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band dos Beatles e que virou Sargento Pimenta e a Banda Solidão, que ouço até hoje amarradão. Amo também Goma de Mascar, canção praticamente desconhecida.

Magia Tropical tem um dado relevante: uma canção (letra e música), sabe de quem? Três chances para vocês: errou. Errou e errou... De quem? Isso mesmo, Sr. Paulo Leminski. Chama-se Razão. Muito bacana. Magia Tropical ainda traz uma dupla reedição. Duas parcerias de Mu com Paulinho Tapajós: Eternos Meninos e Flor de Alecrim, canções que residem na minha memória musical e que até hoje me pego cantalorando esquinas à fora. Paulinho Tapajós, para quem não sabe, é um dos autores de Andança e também de Sapato Velho.

Este disco que hoje o DMV versa, reinou (e reina) na minha vida por muitos anos. Magia Tropical representou o início de uma nova perspectiva de vida, de novas possibilidades até então desconhecidas. Foi uma preparação empírica para tudo que ouviria na década de 1980.

Já agora, nesta parte final deste DMV, noto que a única canção da qual não fiz nenhuma referência foi a que dá nome ao disco. Parceria do Mu com o Evandro Mesquita, Magia Tropical, a canção, paradoxalmente, é uma das piores deste trabalho. A letra é adjavaniada, ou seja, não se entende bulhufas. Mas a música é muito boa. Logo de cara percebemos a mudança pela entrada de Biglione.

Então... caso não tenha alquimia, alquimie-se. Caso não tenha magia, magie-se. Caso não tenha amor, ame-se. Caso não tenha gamado, game-se. Caso não tenha ouvido, aumente o volume.


Marlos Degani escreve poemas, crônicas, arranha um violão e agora se arrisca no mundo dos quadrinhos. Acompanhe sua inquietação em:

O poeta está no Twitter @MarlosDegani

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