quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Última da Mesa

Na mesa havia uma mulher robusta, com seus cinquenta e poucos de idade, branca, fumante, aparentemente uma dessas pessoas sérias. Não mal-humorada, apenas séria. Seus cabelos tinham um tom preto-índio. Havia chegado com algumas pessoas, mas estava sozinha naquele momento. Eu a examinei de longe por um bom tempo. Sabia o que tinha que fazer, mas analisei as fichas novamente antes de apostar tudo na minha decisão. Aquela seria uma noite memorável.

Eu, profundo admirador do corpo feminino, ao ver aquela pele alva, coberta por fino tecido, com seus traços e sinais, respirei fundo e pensei: esta será a última vez. Estava cansado de passar as noites em claro. Precisava de um tempo. Velejar talvez. Espairecer...

Meu amigos não gostavam muito da idéia. Uns achavam precipitado demais, outros pensavam que eu era maluco em abandonar minha especialidade. Afinal, havia desenvolvido uma técnica própria e eles me viam como um exemplo a ser seguido. Porém o tempo havia mastigado meu corpo e memória e eu já não era aquele jovem audacioso que perseguia a risca seus objetivos. Estava cansado.

Fiquei em silêncio por alguns momentos. Ajustei meus óculos com a ponta dos dedos, aprumei a roupa e caminhei até ela. Lembrei da minha primeira vez. Estava tão nervoso e trêmulo que tropecei ao pé da mesa e por pouco não derrubava tudo no chão. Quase estraguei tudo. Pensei algumas vezes em desistir, mas adorava ter a capacidade de mudar o curso da vida das pessoas. E aos poucos me tornei um dos melhores da minha área.

Ao chegar perto dela, toquei seu rosto. Quis memorizar cada detalhe daquele momento. Esperava que a partir dali nossas vidas mudassem radicalmente. Seu semblante era sereno. Embora meu coração palpitasse forte, estava calmo e seguro. Verifiquei novamente se não faltava nada. Olhei para todos ao redor, respirei fundo e comecei a cirurgia.

VanSan
Aracaju - SE / Recife - PE

Um comentário:

Gerusa Leal disse...

Eita, que densidade. Surpreendente. Gostei.