terça-feira, 7 de junho de 2011

MINHA BRANQUINHA

Caralho! Como minha garganta está seca. E o pior é que não posso nem ao menos tomar um gole de cerveja. Um último gole de uma cerva bem gelada. Engraçado que estando eu fudido, meus desejos continuam os mesmos de sempre. Cerva, cigarro e Denise. Ai Denise, como sinto sua falta. Eles não entendem como você é importante para mim. E agora apontam dois fuzis pra minha cabeça como se não me conhecessem. Como é difícil essa sensação de te perder para sempre.

Lembro o dia em que te conheci, numa festa lá em Robervan, fiquei tímido como na primeira transa, mas aos poucos fui me deixando levar por seus encantos. Eu que sempre gostei das morenas fui me prender logo a uma branquinha.

Nossa história foi cheia de deliciosas surpresas. Conheci vários amigos através dela. Gente bacana com quem compartilhei momentos inesquecíveis. Mas meu ciúme por Denise me deixava doente. Não queria dividí-la com ninguém. E ai de quem chegasse muito perto.

Denise só me fazia bem. Várias vezes no trabalho, quando não aguentava mais a pressão e o estresse cotidiano, me encontrava com ela e meu astral mudava em instantes. Nunca tivemos uma briga sequer, ela entendia minha mente como ninguém e me deixava feliz o tempo todo.

O lar de Denise era a favela Vigário Geral. Mas isso não me intimidava. Aliás, nada me acovardava quando meu objetivo era estar com ela. Sempre fui capaz de tudo por Denise. Quantas vezes arrisquei minha vida para tê-la por perto? Quantas vezes abdiquei de tudo e de todos para estar com ela.

Agora estou aqui, desfrutando os últimos momentos da minha insignificante existência, completamente sóbrio. É, quem diria morrer assim com tanto desgosto. Sem direito a último pedido. Tragando o ar puro e agonizante dessa cidade. Droga! Por que esses putos não atiram logo em mim?

De repente, ouço sirenes e uma gritaria infernal.
- Fudeu, o B.O.P.E subiu o morro! Corre porra!

Num minuto os dois traficantes que me rendiam se dispersaram tão rápido quanto uma lapada de cana. E é claro que eu não fiquei parado lá, esperando para ver o que ia acontecer. Dei no pé. Sem bala de fuzil no corpo e sem Denise no bolso.

Só para constar: Denise era o nome que os traficantes do Vigário usavam para vender cocaína.

VanSan
18 de maio de 2011

VanSan é uma grande estusiasta dos EnConotos daqui de Pernambuco e uma fã dos EnContos de Nova Iguaçu e do Desmaio Públiko. Seu blog http://discogravura.blogspot.com/ é umas das paradas mais maneiras que rolam na rede. Só falta ela dar sequência.

Um comentário:

Vanessa Rodrigues disse...

Ops! Preciso retomar minhas atividades..

=P

Honradíssima,
Van San