domingo, 13 de março de 2011

Ontem



Ontem, enquanto participava de uma roda de poesia, pude perceber o quão rápido o tempo passa. Há vinte anos atrás “descobri” a Poesia. Por conta de dois acontecimentos: O Filme “Sociedade dos Poetas Mortos” e o reencontro com um velho amigo, que estava então inaugurando uma publicação chamada “Desmaio Públiko”. Tratava-se de um Fanzine de poesias, que tinha o objetivo de publicar poetas anônimos e poetas consagrados, lado á lado. Eram poemas curtos, muitos “Haicais”, impressos em uma folha A4, frente e verso. Tinha uma periodicidade semanal e era distribuído pela cidade, durante as noitadas em que, a turma que participava, curtia juntos. Havia um ponto de encontro certo nestas noites, um bar onde toda a turma que curtia Arte e Cultura se encontrava. Eram músicos, poetas, atores e atrizes,artistas plásticos, ”alternativos” de um modo geral. Eram noites regadas á poesia e performances de todos os tipos. Nossa turma variava em torno dos 20 anos de idade. Éramos solteiros, alguns estudantes, muitos ainda morando com os pais. Víamos poesia em tudo. Em todo gesto de sincera exposição dos sentimentos. Do amor á dor. Nossas poesias não tinham comprometimento com nada. Escrevíamos o que viesse á cabeça, em nossos transes alucinados que todo aquele tesão de estarmos simplesmente apaixonados pela vida, nos trazia. Produzíamos vários poemas em guardanapos de papel, que eram recolhidos pelo Cézar Ray, muitas vezes sem nem mesmo percebermos, e que na semana seguinte eram publicados no ”Desmaio Públiko”. Passamos a promover “Encontros com a Poesia”, rodas de poesia intercaladas com apresentações musicais e esquetes teatrais. Com o tempo esses “Encontros com a Poesia” tranformaram-se num evento chamado “Projeto Desmaio Públiko”. Poesia, Música, Teatro, Dança e Artes Plásticas. Uma Enorme Exposição de Sentimentos. Uma Enorme Exposição de POESIA! Isso era o Desmaio Públiko! Passamos a ser chamados de GRUPO DESMAIO PÚBLIKO, qualquer um podia participar deste grupo. Não tínhamos estatuto, regras, normas... Não, nada disso. Um grupo informal, que nunca foi criado. Criou-se por si só. E era exatamente esta LIBERDADE a válvula propulsora de todas as ações. Ficamos conhecidos em todo o círculo de poesia alternativa do Rio. E íamos a todos os encontros que éramos convidados. Com carinho especial pelo “Terças Urbanas”, promovido pelo querido Poeta “Samaral”, criador do JORNAL FANZINE URBANA, vanguarda em poesia alternativa nos anos 90. Os anos se passaram, o “Desmaio Públiko” cresceu. Tivemos filhos (quase todos tiveram), muitos casaram e os encontros ficaram menos freqüentes. A publicação seguiu o mesmo ritmo. Hoje, vinte anos depois do primeiro Fanzine, não me lembro mais da última publicação. Não posso dizer que o DESMAIO PÚBLIKO acabou, pois ainda o sinto vivo, adormecido, mas vivo. E ontem pude sentir a mesma emoção que sentia nas apresentações dos anos 90. Fiquei um pouco nervoso, era um público novo. Bastante misturado. Tinha veteranos, mas também tinha gente nova, muita gente nova. Ahh... e um menino de uns vinte anos que leu um dos seus primeiros poemas. Um poema apaixonado, feito para a namorada, que estava lá e que ele convidou ao palco, numa declaração PÚBLIKA de amor, que ele assumiu ser Brega, e que eu achei lindo. Um verdadeiro DESMAIO PÚBLIKO ! Jr Júnior 17/10/2010 Jr Júnior é arquiteto, poeta e pai de Gabriel e Letícia. Nos anos 90, com Alcides Eloy e Cézar Ray se apresentavam nas bocadas com o nome de Decúbito Dorsal. Está com um livro no prelo para ser lançado ainda em 2011, PENTE FINO.

2 comentários:

Vanessa Rodrigues disse...

E assim
arrepiando a espinha
sinto aquela poesia
como um delírio
louco, lírico
apimentado
vivo...

Hugo Mendes Guimarães disse...

é...
dai foi base pra gente,naquela epoca,aprender com voces,conviver com voces,frequentar,começar a escrever nossas timidas poesias,na epoca formamos o fanzine POESIA E CIA espelhados em voces.
e tive sorte do JR ai..ser meu irmao :),até hoje escrevo em qualquer papel,a qualquer hora,e jamais esqueço desse tempo.
bj a toddos