sábado, 31 de dezembro de 2011

Retrospectiva 2011

Criei o Zarayland em março, logo após carnaval. Filho da preguiça e da ressaca. Surpresa foi a receptividade que o blog teve durante este ano. Mesmo agora em que estou há 3 meses sem publicar coisa nova, ele continua sendo acessado diariamente com uma média de mil acessos/mês.

Como o Zarayland pude contar parte da minha história, indicar filmes e discos legais, falar um pouco de pessoas que amo muito e que fazem a diferença em minha vida, tive o privilégio de entrevistar um ídolo meu, Hyldon: http://www.zarayland.blogspot.com/2011/09/dez-perguntas-para-hyldon.html e divulgar movimentos que são bacanudos. Só posso dizer uma coisa: obrigado a todos.

A Sexta Edição foi a mais visitada e o nosso recorde de acessos foi de mais de 4.000 no mês de maio. Neste ano em que também criei os EnContos versão PE, vale registrar que nosso tema com mais textos escritos foi o nosso segundo tema Cadê Denise? Com 15 contos publicados (exceção do conto de Bruno Piffardini) na Edição Especial EnContos vs PE II:

Quero desejar um 2012 fantástico para todos os leitores. E que como me desejou há poucos minutos, meu amigo Lafayette Suzano “quero desejar neste ano que dizem que vai acabar o nosso palentinha, que consigamos criar outros e outros planetas!”

Segue abaixo os 5 posts mais visitados em 2011. E aguardem que 2012 terá ainda muito mais.

Um beijo, um queijo e um beliscão de caranguejo!

EM 5º LUGAR




 
Marlos Degani, colunista fixo do Zarayland escreveu uma resenha sobre o disco LUZ de Djavan e ficou na quinta posição:

EM 4º LUGAR



O Projeto de poesia ENCONTRO DE POETAS E AFINS criado este ano pelo poeta Moduan Matus e pela poeta Sil, garantiu o quarto lugar, com textos escritos por quem estava lá na primeira edição, três textinhos com visões diferentes de Sil, Jr. Blue e Marlos Degani:

EM 3º LUGAR



Levando a medalha de bronze o texto que escrevi sobre o M@SS, combo festeiro criado por Ricardo Quirino, Jorge II e Ferreirinha no qual acabei fazendo parte:
http://www.zarayland.blogspot.com/2011/05/mss-multi-atitude-sub-solo.html

EM 2º LUGAR


Nosso querido MANHÃS DE OUTONO, movimento de pintores amadores apaixonados, intinerante que invadiu as praças, ruas, bares, casas em Nova Iguaçu, gerando telas e mais telas em dias de pura poesia ficou em segundo lugar nos acessos de 2011:
http://www.zarayland.blogspot.com/2011/04/manhas-de-outono.html

EM 1º LUGAR



 
A resenha que escrevi do disco LEVANDO A VIDA ASSIM de Penna Firme ficou com a medalha de ouro. Seu primeiro disco teve a maior quantidade de visitas em 2011 onde todos os 3 primeiros colocados ficaram pau a pau durante o ano todo, parabéns Penna Firme!:

http://www.zarayland.blogspot.com/2011/04/levando-vida-assim-penna-firma.html

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Zarayland Edição 13

Sejam todos bem vindos a mais uma edição do Zarayland. Acabei de mudar e estou dormindo entre caixas de papelão. Roupas na mala de viagem. Procuro tudo e acho nada. Mas vou tocando a vida. Meu amigo Marlos Degani chega sexta-feira (23/09) para minha felicidade! Saudades do Rio já me bate forte. Hoje tem EnContos, vamos a edição então:

1) Agenda Zarayland ajuda aí na divulgação de eventos que vou ou que gostaria muito ir, mas quem puder, não perca!

2) Conto um pouquinho como foi o fanzine Koisas, que acho uma versão em celulose do Zarayland.

3) A segunda parte de minha aventura e de Jr. Blue no carnaval de 1993.

4) A volta da coluna DEZ PEGUNTAS, desta vez o genial Hyldon respondeu ao Zarayland.

5) Resenha do disco Quem Mais Querem de Robson Gabiru.

6) Conto BIKE de Hugo Guimarães.

Até a próxima edição,
Um beijo um queijo e um beliscão de caranguejo

Zaray

Agenda Zarayland

VI EnCONTOS VS PE
É hoje, é hoje! Quarta-feira (21.09) o VI EnCONTOS no Banquete Bar e Restaurante as 19h. Tema: "Coisas Comuns Que Só Acontecem na Rússia".
Uma singela homenagem ao nosso amigo Salomão Wanderley que acaba de voltar de lá.

Bar e Restaurante Banquete
Rua do Lima, 195 – Santo Amaro - Recife – PE
(ao lado da Igreja e em frente à TV Jornal)
Tel.: (81) 3423.9427

X ENCONTRARTE

A 10ª Edição do Encontro de Artes Cênicas da Baixada Fluminense - Encontrarte acontecerá de 22 de setembro a 01 de outubro e terá quinze espetáculos na programação principal. No roteiro, peças para o público infantil e adulto. Destaque para “DNA - Somos todos Muito Iguais”, do Circo Roda. As apresentações são gratuitas.

Teatro do Sesc de Nova Iguaçu
Rua Dom Adriano Hipólito, 10, Moquetá – Nova Iguaçu – RJ

Espaço Cultural Sylvio Monteiro
Rua Getúlio Vargas, 50, Centro – Nova Iguaçu – RJ

Agendamento para caravanas: 21-8288-6253/ 9747-0599 e 2698-1601
Programação Completa: http://www.encontrarte.com.br/

ROQUE PENSE!
Na Praça de Skate de Nova Iguaçu, sexta-feira 23 de setembro das 18h as 22h vai rolar o 1 ° Circuito Roque Pense! - Mulheres, Guitarras e Novas Idéias por Uma Cultura Anti-sexista! Na programação as bandas Cretina (que lançará seu cd: Babilônia Moderninha) e Catillinárias. Discotecagem by Lê Almeida, Stand de Fanzines Let's Pense!, VJ Paulo China, Sopa de Ervilha, Comida Vegan e o que não pode faltar cerveja barata e geladona. Entrada franca

Uma realização do projeto Let's Pense! em parceria com a Transfusão Noise Records.

Praça de Skate de Nova Iguaçu
Em frente ao Viaduto João Müsch (viaduto da Rodoviária)
Centro – Nova Iguaçu - RJ

VIII BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE PERNAMBUCO
A VIII Bienal do Livro de Pernambuco acontecerá entre os dias 23 de setembro e 02 de outubro, no Centro de Convenções - Olinda, com o tema "Literatura e Cidadania".
O poeta recifense Mauro Mota e o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito serão os grandes homenageados.
No site oficial da Bienal você encontra mais informação, e tem até uma indicação de leitura para este blog que vos informa, em: http://www.bienalpernambuco.com/feliz-dia-do-blog

23/09 a 02/10 das 10:00h as 22:00h – R$ 4,00 Inteira
Av. Professor Andrade Bezerra, s/n, Salgadinho - Olinda – PE
Tel.: (81) 3182.8000
 
RECITAL DE POESIA NO PARQUE DA JAQUEIRA
Sábado dia 24 de setembro a partir das 16h, haverá um recital poético no Parque da Jaqueira (entrada principal para reunir os participantes e ouvintes e depois será escolhido um local mais adequado para o Recital). Serão homenageados os poetas que fazem aniversário este mês (1/2 hora) e depois mais 1/2 hora livre. E aí poetas? Simbora?

Parque da Jaqueira
Entre as Ruas Rui Barbosa e do Futuro – Jaqueira – Recife PE


LANÇAMENTO DO CLIPE "MOÇA BONITA" DE PENNA FIRME
O primeiro clipe de Penna Firme vai ser lançando no Teatro Sergio Porto, no dia 24 de Setembro. O vídeo da música "Moça Bonita", parceria com Gabriel Moura e Cassius Theperson, foi dirigido por Rabú Gonzales e conta com a participação da atriz e modelo Shai Almeida. Produção de Cris Penido e realização NKP Produções.
Com o nome na lista amiga a entrada fica só por dez reais! Deixe o nome na página de divulgação do clipe no Facebook:

Rua Humaitá, 163 (entrada pela Visconde e Silva)
Humaitá – Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2535-3846

V ENCONTRO DE POETAS E AFINS

Moduan Matus convida todos os poetas e apreciadores de um bom Recital para ver Sérgio-SalleS-oigréS e a trupe da Gambiarra Profana quebrarem tudo na varanda da Biblioteca do Espaço Cultural Sylvio Monteiro dia 29 de setembro as 19h. Poetas de Nova Iguaçu e do entorno, programa imperdível!

Espaço Cultural Sylvio Monteiro
Rua Getúlio Vargas, 50, Centro – Nova Iguaçu – RJ


POESIA ON THE ROCKS
Esta é para quem vai ao Rock in Rio no dia primeiro de outubro. A fusão dos grupos Ellas e O Monstro e A Gang da Poesia vai declamar poemas na Rockstreet na Cidade do Rock. Conheço bem esta galera e já sei que serão bem mais interessantes que muitas atrações do evento. Se você for ao Rock in Rio, dê um pulinho lá e curta poemas hardcore!

Rockstreet, Cidade do Rock – Rock in Rio
Jacarépaguá – Rio de Janeiro - RJ

Koisas

Ainda não contei aqui no Zarayland a história do Fanzine Desmaio Públiko, criado por Eud Pestana e por mim em 1991. Mas, acredito que todos saibam que era um fanzine de poesia. Privilegiávamos os poemas curtos (visto que era apenas uma folhinha A4 frente e verso) e que qualquer texto maior, precisa ser bastante justificável para merecer ocupar espaço onde caberiam vários poemas menores.

Certa vez, li uma crônica de Luis Fernando Veríssimo chamada Meio-poeta e fiquei com aquela necessidade, que algumas pessoas têm, de partilhar o que a faz feliz!

Como quando conversávamos, eu, Blue, Eloy, Moduan, Eud sobre a poesia estar em todos os lugares e nem sempre caber só no poema. E que ela não pertence ao poeta. A poesia é como o perfume das flores. Se espalha no ar, polemiza a vida. E que precisávamos disseminar o belo.

E como não podia publicar o texto para dividir com meus amigos no Desmaio Públiko, precisei criar um novo canal. E assim nasceu o Koisas.

O que era o Koisas? Eram coisas que gostaria de divulgar e que não fossem necessariamente poemas, mas que tivessem a poesia como espinha dorsal. O Koisas foi a semente do Zarayland, pois tinha o mesmo espírito libertário que este Blog tem. Libertar o que acho legal. Era por demais, pessoal. As coisas que eu curtia e tinha a liberdade completa de divulgar, sem as limitações que meu outro fanzine me impunha.

Ali eu publicava contos, crônicas, quadrinhos, poemas longos, humor, divulgação de eventos, micro-biografia de poetas, entre outros.

Recebia muitas colaborações também, principalmente de Moduan Matus e de Alcides Eloy que eram co-editores de honra.

Lembro que meu amigo e professor André Porfiro, certa feita fez um trabalho com a turma em que lecionava com o poema “Infarto” de Jr. Blue, pedindo para os alunos descreverem o que entenderam do poema:

“De repente
Percebi que
o cardiologista
Não entendia nada
de coração.
E me socorri
com o cupido!”

E nasceram tantas coisas curiosas, engraçadas, poéticas, sem noção, que dediquei uma edição completa só com as respostas dos alunos.

O Koisas era assim, sem compromisso com coerência, sem compromisso com periodicidade, sem compromisso com linguagem. O Koisas era um verdadeiro blog de papel na pré-história internética.

Carnaval 1993 – parte II

Leia antes a primeira parte em:

Chegamos em Angra dos Reis, umas 18h, mas em pleno horário de verão, parecia umas 15h. Molhados, embriagados e surpresos com o tamanho da cidade: “Como vamos encontrar a Josy e o seu pessoal aqui?”. Sem celular (as pessoas carregavam pentes no bolso, não telefones), sem endereço, sem noção qualquer de onde estávamos.

Olhando em volta percebemos que todos estavam arrumadinhos, olhavam para a gente com caras e bocas. Estávamos uns mendigos. Descabelados, maltrapilhos, molhados e doidos. Tão doidos que resolvemos nos trocar dentro da igreja. Não esqueço e sorrio ao pensar em nós peladões dentro da igreja mudando de roupa (no carnaval o único lugar vazio era a igreja) com um medo danado de sermos surpreendidos ali. Saímos de lá transformados, a igreja enfim nos consertou.

Rodamos pelas ruas do centro de Angra na vã esperança de esbarrarmos com Josy por lá. Resolvemos parar em um bar e ficar olhando a rua com o mesmo sentido. Com o passar das horas e o consumo etílico desenfreado, já sem fé em encontrá-la, começamos a cumprimentar todos que passavam na rua. Era um “Boa Tarde!”, “Boa Noite!” para quem quer que fosse. Talvez assim conseguíssemos conhecer alguém que nos desse guarida.

De repente – do outro lado da rua – vimos uns caras correndo e se escondendo entre os carros, todos fantasiados de mulher. Mandamos um alô para eles, que ao contrário de todos com quem falávamos até então, uns respondiam, outros não, uns procuravam na memória se conheciam a gente ou não, outros esnobavam, eles – os doidos – vieram correndo em nossa direção e se sentaram no bar conosco. Nos comprimentaram como se fossemos velhos conhecidos. Vendo nossas bagagens, indagaram-nos onde iríamos ficar. Com nossa resposta de que estávamos quase perdidos, nos convidaram para dormir em suas casas.

Blue ficou cabreiro: “Vamos ser assaltados!” enquanto me via lá na frente já abraçado com os caras, subindo o morro, bêbado, com uma garrafa de vinho embaixo do braço. “Hoje vocês vão desfilar no nosso bloco”. Desfilar? As coisas já começavam a virar um filme. Minha memória começa agora a passear por um território meio surrealista, meio psicoldélico formado por flashes, com cortes rápidos:

Flash1: Eu e Blue indo na casa do carnavalesco buscar nossas fantasias.
Flash 2: Blue rindo de mim, fantasiado com um camisolão preto e uma estrela na cabeça, só se cueca. E depois ele mesmo pensando: “Caraca, estou ridículo também”.
Flash 3: A gente dentro do fusca super apertado e chegando na concentração do bloco.
Flash 4: A avenida iluminada, a bateria comendo solta, o chefe da ala mandando a gente se animar, pessoas sambando, luzes, som, tudo girando.
Flash 5: Eu tirandorápido a fantasia – para não sujar – e vomitando num canto da avenida.... Lembro-me que ainda guardei a fantasia no cantinho de um carro alegórico. Ficando só de cuecas...
Flash 6: Eu e Blue abandonamos o desfile e fomos para a casa dos malucos. Chegando lá, montamos nossos colchonetes e apagamos.

Trágico: acordei com uma puta vontade de vomitar, corri para o banheiro. Blue já estava lá no mesmo processo. Corri para a janela e blarght. Volto para sala e vejo Blue correr para a janela, corro para o banheiro. Passamos mal como nunca havíamos passado até então.

Nosso anfitrião, Charles, preocupado queria nos socorrer sem saber o que fazer. Jr. Blue disse: “Me arrume boldo... por favor, boldo sempre me cura”. Enquanto fazia o chá de boldo ainda explicou: “Boldo é que nem refresco para mim”. Mas ao tomá-lo outra corrida para o banheiro e eu como bom solidário corri para a janela e mais blarghhhttt...

Melhoramos e descemos o morro para conhecer Angra dos Reis. Charles nos levou a alguns lugares do centro da cidade, contou-nos de seus sonhos, de como era sua vida ali e já bem melhores resolvemos almoçar (reparem na quantidade de Coca-cola na mesa. E mesa de Cézar Ray e Jr. Blue sem uma cerveja é raridade. Prova como estávamos mal).

Depois que nos despedimos de Charles, ficamos ali pensando no que fazer. O dinheiro já era quase nenhum. Dava para voltar para o Rio decepcionados ou continuar nossa saga e numa resolução louca, e tomada em segundos, resolvemos ir até Paraty onde a irmã de Blue, Shirley havia alugado uma casa com seus amigos de trabalho para passar o carnaval.

Mas a resolução era a seguinte: “Nosso dinheiro só dá para ir para Paraty. Não temos como voltar. Precisamos encontrar a Shirley lá de qualuqer maneira. Mas nem tenho o endereço e nem imagino onde fica, e aí?” E aí? O próximo flash sou e Blue dentro de um ônibus confortável, admirando a paisagem Angra-Paraty, dando sequência a nossa aventura. Paraty aqui vamos nós...

Continua...

Dez Perguntas para: Hyldon

A primeira música que lembro ter ouvido em minha vida foi "Na Chuva, Na Rua e Na Fazenda". Lembro-me bem, nitidamente, apesar dos meus 4 anos de idade. Estava no quintal, minha mãe conversava com Dona Elenita, nossa vizinha de muro. Começou a chuviscar. Minha mãe mandou eu entrar. Estávamos sós em casa. Provavelmente minhas irmãs estavam no colégio e meu pai trabalhando. Ela permaneceu conversando com a vizinha.

Sozinho na cozinha o rádio ligado tocava Hyldon. Foi a primeira vez que percebi uma melodia e letra. Ouvia e entendia as palavras mesmo sem saber o que era "sapê". Sei que já ouvia músicas antes. Meus pais adoravam, mas aquela vez somente eu e ela, foi que percebi pela primeira vez o que era uma música!

Celebrando esta minha memória, as 10 Perguntas desta edição traz o autor e intérprete desta canção maravilhosa que marcou minha vida: Hyldon!

1) Conte para os leitores do Zarayland como foi a história do seu primeiro violão e de seu último relógio:
Meu tio Dermí morava conosco; eu, minha mãe, meu padrasto e seus três filhos; Edinho, Edinha e Elizabeth. Ele estava no exército, mas tinha um trio: Los Panchos, tipo Trio Irakitã, com a formação de vozes / violão/ Maraca/ Tan tan. Eu queria aprender cavaquinho com um senhor que morava perto da minha casa em São Gonçalo, ao lado de Niterói no Estado do Rio de Janeiro. Pedi então para Tio Dermí me ensinar as primeiras lições e ele pegou pesado, apertava meus dedos contra o violão, mas eu segui em frente e breve criei calos. Aprendi a tocar e cantar várias músicas. A primeira foi “Prece ao Vento” do Gilvan, um cara de Natal - Rio Grande do Norte e que fazia parte do Trio Irakitã, meu tio fazia a primeira voz os outros completavam com a segunda e terceira. Era perto do meu aniversário, ganhei um relógio muito bacana de presente dos meus pais, meu tio ficou de olho no meu relógio, ele era muito vaidoso, como ele tinha resolvido voltar para Bahia, me propôs a troca simples do relógio pelo violão. Aceitei na hora. O engraçado é que nunca mais tive relógio de pulso em compensação tive muitos violões.

2) Como foi gravar o Especial Grêmio Recreativo da MTV com esta galera de outra geração, Arnaldo Antunes, Nação Zumbi, Edgard Scandurra, Céu, Karina Buhr, Fernando Catatau e Seu Jorge?
Foi muito bom, a integração dos artistas, da equipe da MTV e da galera do Estúdio. Ficamos um dia todo ensaiando e noutro dia ainda passamos o som, aí sim, gravamos. Só fera! Fizemos tudo de primeira e rolou uma química entre a gente. O Arnaldo virou meu parceiro, algumas semanas depois nos encontramos na casa dele e passamos uma tarde com muito astral onde compusemos uma linda canção. Seu Jorge é um artista que admiro muito musicalmente e tem uma trajetória muito legal, temos uma identificação natural. Rolou clima com a Karina, com a Céu, com o Edgar e os meninos da Nação Zumbi: o Lúcio (Guitarra), Pupillo (Batera) e Dengue (contra-baixo), ainda tinha os irmãos Amabis e o tecladista Dustan Gallas. Mantenho contato com quase todos. Fui nos shows deles aqui no Rio, Arnaldo Antunes, Seu Jorge, Cidadão Instigado, Karina Buhr... inclusive a MTV fez um Vídeo Clipe com a minha música "Estão dizendo por aí" extraída do Programa. E o mais legal de tudo é que a música entrou em meu novo disco como Bonus Track, com lançamento previsto para Outubro.

3) Em seu site oficial, você disponibilizou os álbuns que estão fora de catálogo gratuitamente. Como você vê o comércio de música na era digital?
O importante é o artista ter consciência da evolução do mundo, das novas tecnologias. O conteúdo é o relevante, que é a música, a arte. Independente da mídia, do veículo, ou de como isso vai chegar até as pessoas.

4) Em seu mais recente álbum, o ótimo Soul Brasileiro você reúne um timaço, com Roberto Frejat, Carlinhos Brown, Zeca Baleiro, Chico Buarque em faixas distintas. Porque a escolha que eles apenas toquem e não cantem também?
Eu quis fazer um lance de usar o lado músico deles, que é uma coisa lúdica, quando um músico toca, ele está em comunhão com o universo.

5) Seu primeiro disco de 1975 reúne seus três maiores sucessos “Na Rua, Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê), “ As Dores do Mundo” e “Na Sombra de uma Árvore” além de clássicos como “Acontecimento” e “Vamos Passear de Bicicleta”. Como foi a gravação deste disco inspiradíssimo?
Foi uma longa gestação. Foram 5 anos de preparação, sendo dois anos como produtor para ter domínio de estúdio e poder concretizar as minhas idéias, já que eu quando compunha, fazia os arranjos e imaginava a canção pronta. A outra parte importante foi contar com a participação dos melhores músicos do Brasil, a começar com o Azymuth e Waldir Arouca que orquestrou quase todo disco, me ajudando a transpor minhas idéias para as partituras. Por último as musas Gioconda, Maria Creuza, Eliane, Gheisa e Eleonora, mulheres lindas e maravilhosas que me inspiraram muito.

6) Hoje o Youtube virou a melhor ferramenta de busca para música da internet. Você usa o Youtube para conhecer novidades musicais?
Só uso! Às vezes alguém me manda um link, as vezes eu busco tipo “músicas africanas”, ou coisas que você não ouve no rádio, ou quando dá saudade de grupos ou cantores antigos como Anita Baker, Ohio Players e como ferramenta pra divulgar meus vídeos. Acho bacana quando algum fã posta um vídeo de show por exemplo, tem um vídeo meu com a Black Rio que o cara filmou no celular, muito tosco e está com 43.000 visitas.


7) Qual a possibilidade de Recife receber um show teu ainda este ano?
Em Outubro sai meu Cd Soul Brasileiro - Edição Extra e pretendo viajar com o show pelo Brasil. Espero tocar aí em Recife, aliás tem uma faixa nova com participação do Pupillo, Dengue e Lúcio Maia da Nação Zumbi.

8) Estive num show do saudoso Luis Carlos Batera com sua participação especial lá no Espaço Cultural Sylvio Monteiro em Nova Iguaçú. Conte sobre sua parceria com este extraordinário músico.
Luís Carlos foi um dos maiores bateristas do samba soul. Tocamos juntos no meu segundo disco e em alguns shows. Sempre fomos amigos. E foi na gravação desse disco "Deus, a Natureza e a Música" que foi criada a Banda Black Rio.

9) Existe uma nova geração que só conhece suas músicas através das regravações de Kid Abelha e Jota Quest. Como você se sente em relação a isso?
Acho ótimo! Muitos desses jovens vão pesquisar na internet e acabam descobrindo outros trabalhos meus. Volta e meia eles aparecem no show com os discos originais em vinil, comprados em sebos ou herdados dos pais e até dos avós e levam no show para eu autografá-los.

10) Além de trabalhar com músicas para teatro, músicas para crianças, produção e composição para outros artistas o que mais você anda aprontando?
Tô preparando 3 discos diferentes. Um de parcerias com Mcs (Mano Brown, Marechal, Delegado, Gil Metralha). Um só de baladas e outro com parceiros com os quais tenho composto: Arnaldo Antunes, Céu, Zeca Baleiro, Michael Sullivan, entre outros. Estou com um desenho animado para crianças pronto pra ser lançado em DVD e a produção do disco de HIP HOP da minha filha, a Yasmin. Fora isso, jogar minhas peladas e espero fazer bastante shows pra divulgar o novo disco.

Robson Gabiru – CD Quem mais Querem

Gabi Gabiru é como chamo este meu amigo, compositor e intérprete de Nova Iguaçu – RJ que exemplarmente lançou seu disco ao vivo “Quem Mais Querem”.

Gabiru sempre foi um incansável artista, compositor e intérprete único. Tanto que obras de sua autoria se confundem com as que somente interpreta, tamanha a destreza em colocar sua digital em cada realização.

Seu disco (distribuído gratuitamente) mostra exatamente quem é Robson Gabiru. Suas composições ganham força quando interpretadas ao vivo. Sua empolgação faz as canções ou versões crescerem muito quando ele bate violentamente em seu violão e em nossas emoções.

Estão aqui todos os clássicos de Gabiru: “Quem mais querem” - hit mor - mais conhecido como “A música do trem”, “O Zé foi Fudê”, “Mato a Cobra” e “Cansei” que encerra o disco num verdadeiro carnaval.

Ouça o que o disco grita. Verve. Talento. Público emocionado e querendo mais. Ouvi meu amigo Jurandir, que há pouco veio a Recife, desfilar elogios sinceros e pragmáticos sobre um trabalho feito com amor e tesão.

Sei que o disco de estúdio do Gabiru vem por aí. Ele é cercado de gente de talento. E um dos músicos mais habilidosos que eu conheço. Quem ainda não se deliciou com o disco, deixo um link para baixá-lo aqui. Quem não conhece o Gabiru vale à pena conhecer.

Ouça. Perceba que o que vem por aí, é coisa muito fina. E Gabiru é um exemplo de dedicação e determinação no que faz. Seja como amigo, seja como músico, seja como parceiro, seja como Rádio Relógio ou como filho de Dona Lurdes! Evoé Robson Gabiru!

Meu Gato Bike – Por Hugo Gumarães (Hugudão ou Gudinho)


Chegava eu por volta das 7:15h da manhã daquele ano de 1999, daquela quarta-feira na famigerada academia de musculação, Jiu-jitsu, Kung-fu, Boxe, MMA e outros bicho’ mais, do famoso dono e lutador Jorginho.

Encostei minha bicicleta - que havia pego num rolo 3 domingos antes na famosa Feira de Areia Branca - na mureta, acomodada junto às demais dezenas de bicicletas do pessoal que frequentava a academia.

Entrei com disposição naquela manhã:
- Fala rapaziada! Fala aí, Jorginho... Seu morto!
- Morto tá tu, seu FRANGO!!!

Era, de fato, um relacionamento muito ‘amoroso’ que esse dono, professor, instrutor, esse ”tudão” da academia, tinha - e ainda deve ter - com seus alunos.

Fazia comentários do tipo: “Sai daí, seu merreca!” - aos risos - comentando que o camarada não tinha músculos. Ou ainda: “Tá deitando na agulha e se cobrindo com a linha rapá, vai se alimentar primeiro que tu “tá morto” – novamente aos risos.

Fiz um rápido alongamento e, como dizíamos na época, “chamei nos ferros”, bebi água, voltei pra bicicleta ergométrica, fiz mais uma sessão “puxada” nos ferros, 1 hora e 1/2 de academia e FIM! Passei a toalha no rosto, joguei-a nos ombros e fui saindo e me despedindo:
- Valeu aí, Jorginho!
- À noite tem Jiu Jitsu, hein, “MERRECÃO”! Vê se tu vem!
- Deixa comigo, venho sim.
- Traz aquele teu kimono pra fazer rolo, aquele teu A3 QUE TU SABE QUE NÃO CABE MAIS EM TU? (A3 é o tamanho do kimono, que vai de A1 a A5).
- Tá tranqüilo feião!

Saindo então da academia virei para a esquerda, e olhando para a mureta, procurei minha bicicleta que para minha surpresa simplesmente não estava lá! Olhei de um lado, de outro... Haviam várias outras, menos a minha!

Ainda sem querer aceitar que tinha sido roubado, olhei uma por uma, dos dois lados do muro, e simplesmente não achei.

Enquanto tentava, em vão, achá-la, um senhor do outro lado da rua gritou:
- Aaah grande! Não sabia de quem era... Passou um doido aí, lá do bairro “Tropical”... Ele tava com um saco na mão, com uns gatos pra vender... Sei que ele montou numa bicicleta aí e meteu o pé!

Pensei comigo, só pra variar:
- Um maluco com um saco vendendo gatos, dentre as mais de dez bicicletas, rouba JUSTAMENTE A MINHA? E afirmo, não era um camelo bonito, chamativo, enfim... Coisa que só acontece comigo!!!

Enquanto o senhor falava isso, eu andava exatamente pra posição onde antes estava minha bicicleta, e, naquele espaço agora vazio, havia um saco (dessas sacolas de pano antigas, de “sacolão”) e lá, PASMEM, havia um gatinho!

Gritei pro cara do outro lado da rua:
- AÊ SENHOR, tem um gato aqui dentro de um saco!
- Aaaahh, então foi isso... Péra aí! Vou aí ver!

Falou chegando, atravessando a rua. Olhou o saco, olhou pra minha cara:
- É, ele tava com esse saco aí tentando vender uns gatos. Acho que ele só não conseguiu vender esse aí... Sei não grande, ele deve de ter largado isso aí e meteu teu camelo...
- Porra, como assim??? Roubar uma bicicleta e largar um gato?
- Aí eu já não sei, grande, sei que é fácil encontrar esse safado rapá! Nêgo tá doido pra quebrar esse vagabundo. Ele vive roubando coisa aqui no bairro, dando volta nos outros... Diz ele aí que “esses gato” era tudo de raça... Porra nenhuma! É tudo vira-latão!

E eu pensando comigo: “Nessa altura do campeonato, arrumar um gato vira-lata, que trocaram à força na minha bike...”

Agradeci o coroa, que já ia se direcionando pra padaria, e peguei o gato, olhando pra cara dele...
- É parceiro, vou te levar pra casa um pouco, porque se eu chegar contando isso ninguém vai acreditar em mim!

E lá fui eu, subindo a avenida do meu bairro, suado, a pé, com um gato no colo pensando:
- Eh, tem coisas que só acontecem comigo...

Virei à esquina e entrei na minha rua. Vieram duas crianças:
- Ai, que lindo! Posso ver?
- Lindo? O que? Esse gato? - perguntei, espantado.
As crianças brincaram um pouco com ele e perguntaram:
- Qual o nome dele?
- Boa pergunta! ...Não, não... no caso... O nome dele, né? AH! É BIKE!!!

As crianças brincaram mais com o “Bike”, começaram a puxar o rabo dele e o bicho foi ficando “estressado”...
- Chega, chega! Tenho que levá-lo pra comer. Tchau!

Metros à frente cheguei em casa. Entrei por trás, pela cozinha. Minha mãe fazia algo no fogão. Meu pai sentado à mesa, comendo pão, disse:
- Que isso na tua mão?
- Isso é um gato, pai!
- É, no caso graças a Deus eu percebo isso!
- Pois é, que bom...
- De quem é esse gato?

Quando comecei a contar o que havia acontecido, meu pai aumentou a voz e chamou minha mãe:
- “Neguinha”, vem ouvir essa aqui!

Continuei a contar tudo, os detalhes do caso, o que o moço havia falado do ladrão, localização, bairro, etc, etc... Eles ouviram atentos, todo o desenrolar e meu pai perguntou:
- Hugo, pode falar... VOCÊ TROCOU A BICICLETA NESSE GATO?
- Como assim, pai?
- ROLO! Você FEZ ROLO com a bicicleta nesse bicho?
- ‘Coé’, pai? Tá de sacanagem? Eu vou trocar minha única bicicleta num raio de um gato?
- Não sei... É possível, né? Dá uma injeção de B12 nele! Vai que ele cresce e vira uma onça? Daí tu sobe nela e sai “vuado” por aí! – disse, rindo.

Eu já estava um pouco puto com a situação quando minha mãe falou:
- Ele é bem gordinho, né? Me dá ele aqui! - pegando da minha mão –
Minha mãe brincando, olhando pra barriga dele... - É, não é fêmea não, pensei que tivesse ‘de barriga’, mas é macho.

Meu pai em tom de deboche:
- Trocou uma bicicleta num gato gordo!
- Pai, EU NÃO FIZ ROLO! ROUBARAM A BICILETA E DEIXARAM ISSO NO LUGAR!
- Qual o nome dele, Hugo?
- Nome? Por quê? Eu não pensei em ficar com ele... Eu...

- Ah! Mas ele é tão bonitinho... - disse minha mãe, com tom de ternura.
- É, mãe, não sei não, falei pros meninos na rua que o nome dele era ‘Bike’, me referindo à minha bike que foi roubada...
- Ótimo nome! - Disse ela.

Aí meu pai, pra “fechar com chave de ouro”:
- Bike Barrigudinho, é esse o nome desse bicho? - disse, rindo.
- Pô, pai! Bike Barrigudinho?

Minha mãe levou o bicho próximo a meu pai, uma vez que ele não queria por a mão no gatuno, ela disse:
- Olha Fernando, como ele é bonito! Gordinho e bonito!

A essa altura eu já tinha colocado um café no meu copo. Sentei, puto, e comecei a comer um pão.
- Gudinho! - como meu pai me chamava.
- Pai, não quero mais falar nisso, na moral.
- Não, sério! Agora é sério... Você reparou nesse gato?
- Pai, eu não quero mais falar! Na boa...
- Gudinho, esse gato é VESGO!!!
- Porra pai, pára de aloprar!
- OLHA AQUI! O GATO É VESGO!!!
- Vai querer botar o nome do bicho agora de “Bike Vesgo Barrigudinho”?
- Não... Claro que não... Bike Barrigudinho tá ótimo, mas que ele é vesgo... ele é sim!

Minha mãe colocou Bike no chão enquanto procurava um pote para pôr leite para ele no canto da sala, em baixo da escada. E ainda esticou um paninho... E Bike Barrigudinho “caiu dentro” do leite, enquanto eu terminava meu café da manhã.

Meu pai abria o jornal enquanto tomava café. O gato tomava seu leite. E minha mãe já contava a novidade pra vizinha da frente, que varria a calçada.
- O Hugo arrumou um gato lindo, vou te mostrar. (E eu, lá de dentro de casa, pensando ao ouvir isso: “Porra mãe, o gato é barrigudo e vesgo e você chama de lindo?”)

Bike Barrigudinho ficou conhecido na rua, todos gostavam dele, era um gato divertido, brincalhão, ”um pouco” vesgo, confesso... Vivia no beiral do terraço e comia bastante. Engordou ainda mais nos primeiros meses. Minha família e as crianças da rua o adoravam. Muitas fotos foram tiradas... Bike virou “membro familiar”, como todo gato. Abusado, deitava e dormia no meu travesseiro, no sofá, via TV, escalava cortinas, deitava na cama dos meus pais – meu pai odiava isso!

Bike Barrigudinho se tornou um doce gato de estimação, lembrança viva até hoje nas conversas de família e entre amigos. E pra variar, eu, motivo de chacota!
- Lembra quando o Hugo trocou uma bicicleta por um gato?
- EU NÃO TROQUEI! ROUBARAM! QUE SACO...
- Aaahhh... Tá bom! Foi um “rolo forçado” né? – todos diziam, aos risos.

Na academia fui zoado durante dias, semanas, meses a fio...
- Cadê o Bike Barrigudo??? Traz ele pra malhar aqui cara!
- Vai SE F...!!!
- Fala, Hugão! O Bike tá estacionado aí na frente??? Cuidado pra não roubarem ele e deixarem um “sanhaço sem bico e com asa quebrada” pra tu!
- Aaahh maluco, vai pro INFERNOOOOOOOO!!! - dizia eu, irritado.

Por falar em sanhaço - já foram tantos, não no valor da palavra passarinho em si, mas na gíria, referindo-se a problemas que – bom...

Isso é papo pra outros contos.

Saudades do Bike Barrigudinho, dos rolos da Feira de Areia Branca, e juro, saudade daquela antiga academia!

Hugo Guimarães ou Hugudão ou ainda Gudinho é poeta, cronista, contador de causos, mora em Búzios no Rio de Janeiro, filho de Gudo e Gudinha, irmão de Jr Blue, Jan, Shi e Nika. Seu blog “Tirando da Gaveta Muita Manobra”  (http://manobradaspalavras.blogspot.com/) é um dos meus preferidos da rede e esta história do gato Bike é impagável!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

EDIÇÃO 12

Leitores Saudosos do Zarayland, estou de volta depois de um hiato em que resolvi tirar umas férias do Blog e viajei um cadinho. Fui ao Rio duas vezes, comemorei o aniversário do Cineclube Buraco do Getúlio, viajei de novo, comemorei o aniversário de minha filha Diva, revi grandes amigos como Ricardo Siciliano, Marton Olympio e Odervan Santiago – alguns que não via há uns 10 anos. E enquanto por aqui, meu senhorio pediu o apartamento, me forçando a procurar outro lugar tão agradável quanto este em que estou agora, para morar. No Rio soube há poucas horas que uma querida vizinha nos deixou. Por isso este Zarayland eu dedico a nossa doce Dona Nilda. Vou sentir sua falta... Fique com Deus!

O Zarayland 12 ficou assim então:

1) A Casa de Cultura de Nova Iguaçu, não o Espaço Cultural Sylvio Monteiro, mas aquela nos pés do viaduto João Much ao lado da Praça do Skate, é meu primeiro assunto.

2) Na coluna Meu Povo, faço um ensaio sobre meu irmão André Eira.

3) Falo sobre três Cineclubes marcantes para mim: O Mate com Angu de Duque de Caxias, o Buraco do Getúlio de Nova Iguaçu e o Cine Banquete daqui de Recife.

4) Conto a primeira parte da aventura de carnaval de 1993 vivida por mim e por Jr. Blue, onde tudo deu errado e ao mesmo tempo tão certo.

5) Coluna DMV de Marlos Degani, versa sobre Eu Canto Samba de Paulinho da Viola.

Boa Leitura,

Um beijo um queijo e um beliscão de caranguejo!

Zaray

Casa de Cultura de Nova Iguaçu

Um convite serigrafado com uma bela gravura da Fazenda São Bernadino era a passagem para conhecer os artistas de minha cidade. Onde? A inauguração da Casa de Cultura de Nova Iguaçu em 1989.

Na época eu não estava tão interessado em cultura assim, mas sim em alguém que queria impressionar. Uma amiga de minha irmã (por quem meu coração batucava naquele tempo) e a levei para a inauguração.

Lembro-me que estava quente e que ficamos do lado de fora conversando. E depois fui embora e não voltei tão cedo.

Em 6 de dezembro de 1991 lançamos o Desmaio Públiko e aí tudo mudou. Conheci o poeta Moduan Matus que publicava no fanzine e, numa das edições, não havia me passado seu poema. Pediu-me para ir até a Casa de Cultura – onde trabalhava então – para que pudesse me entregar seus versos. O advento email ainda não era popular.

Na hora do almoço eu e Eud Pestana fomos até lá e adoramos tudo que vimos. Da inauguração para aquele dia passaram-se poucos anos, mas eu já era outra pessoa e enxerguei aquela Casa como um espaço onde poderia encontrar pessoas com os mesmos interesses que o meu. Onde poderia viver a arte profundamente. Nova Iguaçu não tinha uma Casa de Cultura do município! Os equipamentos culturais eram parcos e abandonados!

Viver a arte profundamente! Foi isso que aconteceu nos meses seguintes. Não saíamos de lá. Dormíamos lá. Sob a direção de Raimundo Rodrigues a casa ganhou a galeria Walmir Ayala com exposições de arte contemporânea, aulas de yoga com a poeta Líriam Tabosa, aulas de teatro e mímica com Alexandre Ribeiro, diversos shows musicais, cineclube, clube de tapioqueiros, aulas de esperanto, tai-chi-chuan, oficina de arte, Encontros com a Poesia, entre outras manifestações artísticas.

A Casa de Cultura me propiciou também conhecer algumas pessoas especiais de minha vida. Foi lá que conheci a já citada Lirian Tabosa, Almeida dos Santos (o Bolão), Demétrio Oli, Fernanda Morais e o grupo Elementum, o próprio Raimundo Rodrigues e Julio Sekigushi, Pão com Ovo (Mega), Fátima do Rosário o criador e financiador da casa Emanoel Emir e tantos outros caros amigos que até hoje brilham em meu peito e lembrança.

Várias histórias que só poderiam acontecer em determinada época, foram vividas por lá também, como a vez em que depois de termos fechado o Daniels Bar ficamos bebendo e declamando poemas para nós mesmos até tarde no bar da Casa de Cultura e acabamos dormindo por ali.

Quando acordamos na manhã de domingo, o Raimundo Rodrigues estava furioso coma bagunça porque o pessoal do Tai-Chi estava para chegar e precisávamos arrumar aquela tudo. Limpamos o que pudemos, mas na hora de acordar o poeta Moduan Matus, quem disse que conseguimos? Ele deitado no palco sonhava lindamente com musas platônicas.

A saída? Pegamos o poeta pelas mãos e pelos pés, fizemos um cercadinho com os cubos praticáveis que montavam o palco e o colocamos lá e o cobrimos com o pano de fundo do palco. Pronto! Imagino o susto que Moduan tomou quando acordou horas mais tarde dentro daquele “caixão”.

Com problemas financeiros – a Casa não recebia quaisquer subsídios municipal e era praticamente bancada pelos cursos e pelo seu “dono” Emanoel Emir – chegamos a fazer algumas manifestações para arrecadar fundos para a Casa, como a “Vaquinha” pelas ruas do Rio e ato na Cinelândia, mas não foi suficiente e infelizmente, meses depois d’eu redescobrir a Casa de Cultura de Nova Iguaçu, ela encerrou suas atividades deixando um vazio que até hoje, nem com o Espaço Cultural Sylvio Monteiro foi ocupado.

MEU POVO: André Eira

Nascido André Luis Pereira quase seria André Pera. Salvei meu irmão na hora: Que isso Vavá? Eud: ele precisa de um pseudônimo para assinar seus sonhos. Mas péra! Pera cumpadi? Eira então. E ficou. Ele nem gostou muito na época, acostumou. Conheci porque namorou minha irmã quando ainda era seu aluno. Depois foi morar lá em casa. Ficávamos acordados esperando o Pixies tocar na Fluminense FM e demorava. Viramos irmãos não sem antes odiar seu aprendizado téum téum téum no violão. Mas gostava de DeFalla e eu também. Gostava de Lô Borges e eu também. Achava meio doido e ele me achava também. Fez Educação Artística na UERJ e eu também. Não terminei. Ele sim. Namorei uma menina e ele também. Na mesma época, porra sacanagem. Fizemos consórcio para comprar LP e ele ficou com a maioria dos meus. André para todos é irmão e para mim principalmente. Sua casa em Morreba era o esconderijo perfeito para filosofia boemia alegria energia e outras ias que iam e não voltavam. Depois mudou para Cerâmica onde recebe amigos e exibe seu Jackson Pollock feito a 4 mãos com Paola que virou Paoleira. Meus irmãos. Estou sempre por lá quando vou ao Rio. Respirar. Pirar. Gargalhar. André é músico, mas nem toca mais. Tem coleção de vinil gigante, mas nem ouve mais. Baixa tudo e baixa mais. Shows que me apresenta e presenteia. Arcade Fire, Pixies, Radiohead. Tivemos uma banda juntos. Eu ele e Alexandre Cavalão. Levianas. Era banda de malucos que nunca tocou. Eu e ele gravamos umas músicas do Fellini, Picassos Falsos, e nunca mais soube onde foram parar aquelas fitas. Eu nos teclados ele no violão e os cachorros latindo. É poeta, mas nem se acha. Aposentou-se de tantas coisas para saber de que coisa era feito. Ainda não descobriu. Mi Casa Su Casa. É assim para quem quer chegar por lá. Diz que não ama, é vaselina. Mentira. Ama mais que muitos que repetem isso a torto e a direito por aí. Não tem um que não goste dele. Deve ser vaselina mesmo. Sabe de tudo um pouco. Mas ouve todos que é uma beleza. Mas quando não concorda vira a noite em cima de um mesmo assunto até achar que já deu. Seu dedo antes em riste, recolhe-se e diz: valeu. Amo de coração este surfista prateado e sinto muita falta dele aqui perto de mim. Por que como diz ele: “Tá comigo tá com Deus”.

CINECLUBES

O Mate com Angu

Admito que não saiba ao certo como foi fundado o Cineclube Mate com Angu, assim como também não tenho certeza de todos os personagens envolvidos. HB, Bia Pimenta, Igor Barradas, André Oliveira, Maravilha são alguns dos punks responsáveis. A educadora Armanda Álvaro Alberto a inspiradora do nome e do caráter revolucionário. Nove anos, sei, comemoraram agora no último dia 27 de julho.

Infelizmente não pude ir ao Rio para brindar junto aos meus amigos esta data tão importante para Duque de Caxias, para a Baixada Fluminense, para o Rio de Janeiro e porque não, até para nós aqui, do Recife. Já que o homenageado da Sessão de Aniversário foi o poeta recifense Solano Trindade. Poeta, artista plástico, ator que entre outras atividades culturais, idealizou o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro lá em 1934.

O Mate com Angu prestou devida homenagem, saciando a fome dos presentes com os filmes “Expera” de Guilherme Zani e “O Vento Forte do Levante” de Rodrigo Dutra. Além, é claro, de festa que deve ter sido muito boa como as que participei como Dj durante o ano de 2007.

Conhecia uns cabras que tocavam a pajelança, mas até então nunca havia ido a uma edição. Mas nos esbarrávamos sempre em outros eventos onde atuávamos como convidados. Um deles foi em Belford Roxo no evento que o Roger Hitz organizou no terreno baldio em frente a sua casa com shows de Coyote Valvulado e Caô de Raiz, exibição de filmes do Mate com Angu, poesia com Sylvio Neto enquanto eu esquentava o público como DJ, colocando doses de músicas envelhecidas em barril de vinil. Ainda que fossem CDs.

HB e André Oliveira ouviram e curtiram.

Logo depois fui convidado para tocar numas das Sessões do Mate com Angu e acabei ficando quase um ano como Dj residente e me extasiando com os filmes, o clima, as pessoas e o ambiente do cineclube. Sentia-me em casa na Lira de Ouro, quase um “Mateiro”. Eu e Marcelo Peregrino chegávamos cedo montávamos os equipamentos e já começava a festa. E só ia acabar quando pediam para encerrar. Não pelo público e nem por mim. Mas pelas altas horas em que a carruagem já ia.

O Mate com Angu sempre teve um público festeiro, porém interessado nos filmes. Biriteiro e ao mesmo tempo criador. Ali ríamos, nos chocávamos, cantávamos e nos alegrávamos com as projeções.

O Mate com Angu é isso. Muita gente bonita de todos os cantos brotam em suas sessões. Tinha até um ônibus que saía do Passeio no Rio (cidade) para Caxias. As atrações nunca eram e nem são fechadas em determinado segmento musical. Do rock’n’roll ao samba. Do forró a eletrônica. Tudo cabe lá.

Admito que estou muito afastado de meus amigos do Mate. Ainda que eles estejam sempre em minhas lembranças e em meu coração. Um dia eu volto e onde o Mate com Angu (o Cerol fininho da Baixada) estiver, vou querer estar novamente na primeira fila.

Toda Última Quarta-feira do Mês
Ponto de Cultura Lira de Ouro
Rua Sebastião de Oliveira
(próximo ao calçadão, paralela a Nilo Peçanha), 72
Centro - Duque de Caxias
Informações: 21 3774.4157


O Buraco do Getúlio

O Buraco é de uma geração mais nova que o Mate com Angu. Com características semelhantes, porém com identidade própria. Desde seu nascedouro se caracterizou por fazer parte da “Geração Delírio” alcunha que batizou toda uma galerinha que apareceu logo depois que nós do Desmaio Públiko, Agito Cultural, povo do Daniels Bar chegamos aos trinta.

Uma turma de artistas novos, cheios de idéias novas e tesões em altíssimo grau, pronta para tomar a cidade de assalto. Sem os vícios históricos que nos acorrentou várias vezes. E com o frescor dos novos tempos!

Bandas como Sofia Pop, Splash; Artistas circenses do MACA e Los Tchatchos, Estilistas Áurea e Laura Gmea, Eventos como Os Cabarés são alguns representantes desta onda.

Ao contrário do Mate com Angu sei exatamente quem são todos os criadores do Buraco do Getúlio, que a princípio era apenas um projeto do Laboratório Cítrico, combo criativo formado por Flor Baez, Fabiano Mixo, Jimmy, BiOn!, Luana e Drica.

A Flor Baez eu conheço desde o ventre. Filha de uma grande amiga minha, Lúcia Monteiro, fui a vários dos seus aniversários de criança. E hoje, ser amigo dela é um dos grandes prêmios que a vida me contemplou.

Um dia cheguei na casa do Mozart de manhã cedo, viradaço, procurando um canto para continuar bebendo com alguns amigos e conheci o BiOn por lá fazendo dreads. Contei para ele histórias e mais histórias e ficamos amigos!

Fabiano Mixo filho da atriz Ana Márcia Mixo foi outro que vi guri que cresceu e virou parceiro de pirações artísticas. Hoje mora na Alemanha.

Fui convidado para uma entrevista para um programa do Canal Futura (pela Raísa Flor Baez e a Drica era a produtora.

Luana e Jimmy conheci por conta dos amigos ou pelo próprio Laboratório Cítrico.

E lá se vão 5 anos comemorados no Espaço Cultural Sylvio Monteiro com uma puta festa, com as bandas Spllash, Cretina, Gente Estranha no Jardim, Charanga do Caneco (banda de Peregrino, Adonis e Batata, que nasceu dentro do Buraco do Getúlio), o fanzine Lets Pense, o Dj Zé... E eu, minha gente, peguei um vôo e fui. Vi com estes olhos sagrados uma comunhão de pessoas belas ao redor de uma vitória. Cinco anos de um Cineclube que começou num bar aberto, barulhento, com algumas pessoas desligadas e outras totalmente antenadas. Mas o Buraco resistiu bravamente!

Eu vi o cineclube crescer. Não ficar sério. Mas ficar cada vez mais prazeroso e aí sim parecer mais sério. Mais comprometido. Seus organizadores não são mais os mesmos, sei que BiOn e Lua encabeçam a empreitada mas que Marcelo Peregrino (que muito fez também pelo Mate com Angu), Batata e Adonis estão no front também, Flor Baez e Abílio cuidam de outra parte importante do evento, o bar e sinto orgulho da Geração Delírio. E tenho a honra de ter – junto a Marlos Degani e Sylvio Neto – feito uma das primeiras intervenções no Buraco do Getúlio!!! Lágrimas que descem, créditos que sobem!

Sessões às terças e no primeiro sábado do mês às 19h!
Espaço Cultural Sylvio Monteiro
Rua Getúlio Vargas, 51 – Centro
Nova Iguaçu - RJ
(próximo à estação de Trem Nova Iguaçu)


O Cine Banquete

E claro que não posso deixar de falar do cineclube do Bar Banquete. Que é completamente diferente dos cineclubes citados – acima - lá do Rio. A Mostra Cineclubista e Competitiva Banquete de Curtas acontece uma vez por mês sob a curadoria de Amanda Ramos e o público escolhe a cada sessão através de votação o melhor curta da noite e seu diretor ganha um jantar no Banquete. Não há festa após as projeções mas esta competitividade torna as sessões disputadas e com um sabor peculiar.

Assisti curtas de todos os tipos numa mesma Mostra. Documentário, poesia em forma de filme, feitos com material de última geração, feitos por celular. A Mostra é democrática e os diretores levam seus amigos para a torcida deixando vibrante cada sessão. Na próxima estarei lá para torcer para o melhor curta e abraçar minha amiga Amanda!!

Toda segunda Quarta-feira do Mês as 19h
Local: Espaço Cultural Banquete / Bar e Restaurante Banquete
Endereço: Rua do Lima, nº 195, Santo Amaro, Recife.